Antes

Depois de uns cinco anos fora, ela estava visitando a cidade em que conheceu o pai das crianças. Já iam fácil uns quinze anos desde a primeira vez que ela pôs os pés naquelas calçadas.

A cidade parecia mais suja e bagunçada que antes. Não tinha tanto carro nas ruas naquela época. Agora era barulhento e fedia.

Resolveu passar naquele velho café perto da praça da igreja. Vendiam uma torta de banana que era sensacional. O pessoal que trabalhava lá era sempre bastante atencioso e prestativo, mesmo quando estava lotado. E os sucos que eles faziam eram dos melhores.

Algumas coisas logo na entrada pareciam diferentes. Na cabeça dela, o lugar era um pouco maior. Lá no fundo, atrás do balcão uma senhora levantou vagarosa e despretensiosamente os olhos do jornal e ficou olhando a cliente entrar.

Ela entrou, escolheu uma mesa, sentou-se e abriu o cardápio. De uma porta nos fundos saiu o garçom. Era o mesmo de antes – ela o reconheceu. Já está um homem! – ele devia estar no ensino médio à época.

Vinícius era o nome dele. Ela sorriu ao se lembrar. 

Antes de ele chegar na mesa, ela passou os olhos pela lista de sobremesas. Não tinha mais a torta de banana? O suco de laranja com leite ainda estava lá.

Quando o piá chegou na mesa ela o cumprimentou efusivamente e com um largo sorriso. A ele bastou perguntar se ela queria fazer o pedido.

Frustrada com a recepção, ela pergunta da torta. Já não fazem mais. Pediu outra sobremesa aleatória e pediu o suco.

Antes, quando ela tinha um intervalo muito grande entre seus compromissos que não compensava ir pra casa, ela ia nesse café. Antes, tinha uma televisão – não tem mais.

Antes, quem ficava atrás do balcão era o Seu Olavo. Cogitou perguntar dele, mas decidiu não querer tocar no assunto – vai que o velho morreu e sua memória ainda traz tristezas. Mas, se morreu, do que que ele morreu?

O suco chegou. Era ao mesmo tempo doce demais e azedo demais; tinha muito leite também. O alfajor era ok; mas ela não tinha criado expectativas sobre ele. 

Ela decidiu não ficar muito tempo ali dentro. Resolveu logo levantar e ir embora.

A senhora do caixa até que foi simpática; ao ver que ela tinha se levantado e se aproximava do caixa, a senhora até esboçou um sorriso.

Foi difícil enteder quanto tinha ficado a conta; a senhora falava com sotaque de alguma língua de algum país bem longe – a Iugoslávia, talvez.

Quando saía, ela percebeu a sensação de ter visitado um lugar completamente estranho, mas ainda com aquela sensação de pertencimento e um quê de saudade e nostalgia. Pensou em voltar ano que vem pra ter uma segunda nova opinião.

Assim que fechou a porta atrás de si, ela lembrou: Vítor. O nome do piá era Vítor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário