Saída

Ela acordou assustada; as vozes das pessoas, que falavam alto, haviam-na acordado. Ainda com a visão um tanto embaçada, ela olhou em volta. Estava sentada no chão deitada sobre os braços que lhe serviam de travesseiro sobre uma cadeira. Por todos os lados, pessoas, ocupadas, iam e vinham. Estava no saguão de um aeroporto; junto com ela, naquelas cadeiras, pessoas, ansiosas, esperavam por seus voos, parentes e desconhecido. Ela, por sua vez, sentia seus braços formigarem. Ela não conseguia se sentir à vontade em meio àquele tumulto; levantou e, cambaleante, procurou por uma saída. No banco logo atrás daquele em que ela estava deitada, estava aquele senhor que ela sempre via na praça, com os olhos frios em seu caderno e com seu lápis correndo por toda a folha como se não obedecessem aos comandos do velho. Do outro lado do saguão, via-se a porta; havia muita gente, ela mal conseguia locomover-se. Muitas pessoas conhecidas passavam por ela e acenavam; amigos de infância diziam coisas em línguas que ela não falava; sempre que havia aqueles que tentavam puxar algum assunto, ela sentia que aquele não era o lugar; deixava-os todos falando sozinhos — até mesmo sua irmã, de quem ela gostava tanto.
Do outro lado da porta, silêncio. Assim que ela fechou a porta atrás de si, um silêncio sepulcral se instalou; ela sentia-se aliviada, como se tivessem tirado um peso muito grande de seus ombros. No teto, pendiam lâmpadas fluorecentes por todo o corredor, que seguia cheio de portas dos dois lados, até sumir de vista. Lembrava-lhe o corredor de uma escola, mas as paredes, impecavelmente limpas, faziam-na pensar num hospital. Como o que ela queria era apenas sossego, aquilo lhe servia pelo silêncio.
Saiu por uma porta onde se lia saída e se viu num jardim cheio de flores, onde, por ser qualquer época do ano, não se viam flores, e se sentiu novamente à vontade. Recostou-se sob a sombra de uma árvore e dormiu por ali mesmo.

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