LiEBEN

Estava bem frio. Aquela garoa fina incomodava. Uma tarde cinza de outono.
Com um olhar vago, Johan assistia o dia passar.
Estava sentado num daqueles bancos da fria rua XV. As pessoas, enroladas em seus cachecóis, agasalhados ao máximo, desfilavam em câmera lenta.
Ela não viria.
No seu colo, Johan segurava um buquê de flores. Ligara para ela, não obteve resposta; mandara-lhe e-mails; deixara-lhe recados.
Pela manhã, antes de ela sair para o trabalho, ele deixou um bilhete com o porteiro. Um pedido de desculpas. Nele, pedia para que ela viesse aqui, agora.
Sem perceber, tinha puxado as flores para mais perto de si; indefeso, abraçava as flores. Tinham um cheiro reconfortante. Tirou as luvas e começou a tocá-las, uma por uma.
Dentre elas, uma margarida laranja. Solitária em meio a rosas e espinhos. Suas pétalas eram as mais macias. Fizeram-no sentir-se sensível; percebeu-se vulnerável
Ela não viria.
Pôs de novo as luvas. Olhou em volta. Numa cafeteria, ali perto, via-se um casal eloqüente, gesticulavam e sorriam. Um casal de meia idade com um casal de filhos tomavam chocolate quente na mesa ao lado. Um senhor de barba bem cuidada lia seu jornal e fumava um fumacento cachimbo.
O mundo havia girado rápido demais para Johan; ele não conseguira acompanhar. E agora esperava em vão por alguém que temia nunca mais ver.
Ele, que só queria poder pedir desculpas e que sonhava em ser perdoado. Ele, que, embora tenha sido sensível o bastante para ter amado de todo o seu coração, não fora sensível o bastante para ser amado de volta.
Ela não viria.
Quantas horas se passaram até que ele se desse conta disso e achasse forças para ir embora?
Seus olhos lacrimejavam. Devido ao vento frio, talvez.
Ele tirou a margarida do buquê e levou consigo. Saiu em passos largos, rápidos e cambaleantes para um lugar que nem ele conhecia. Jogou no lixo o buquê e com ele o cartão de feliz dia das mães.


willian

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