Sem muito ânimo ela dirigia de volta pra casa. Era um fim de tarde de um 31 de dezembro qualquer. Como todo bom fim de tarde de verão, chovera. A tempestade já passara, mas a chuva não cessara por completo; ainda caíam algumas gotas. As gotas no vidro do carro, as luzes da cidade se acendendo, as luzes dos carros, brancas, vermelhas e as amarelas que piscavam; isso trazia um sentimento nostálgico. Ela se lembrava dos tempos de menina quando ela, sentada no banco de trás, com os olhos cheios de lágrimas, reclamava de alguma coisa para sua mãe; ela se lembrou que gostava do brilho das luzes em seus cílios, lembrava-se de como as luzes se esticavam, de como pareciam enormes estrelas brilhantes. Mas, agora, quem dirigia o carro não era o papai e não havia mamãe no banco do passageiro para com quem reclamar. Não havia mais ninguém no carro. Não tinha com quem comentar o quanto estava bonita a decoração natalina daquela casa na esquina do sinaleiro. Ela andara por vários bairros da cidade naquele mês para ver as casas decoradas – comparava-as com a decoração que sua mãe fazia; mas isso não tem a mesma graça quando se tem que fazer sozinha – não é como chegar em casa, ficar só de calcinha e camiseta, ligar o som bem alto e andar pela casa cantando, sem se preocupar com o tom ou mesmo com as letras em inglês. Era o que ela ia fazer enquanto punha o champanhe pra gelar. Antes só, pensou, do que mal acompanhada.

-- E quem será que ganhou a São Silvestre? – disse ela em voz alta para si mesma como se tentasse mudar o rumo da conversa. Nos seus cílios, as luzes esticadas pareciam enormes estrelas.



willian

3 comentários:

  1. Lágrimas??? Sabe, agora fiquei meio travada para imaginar sobre seus textos... Enfim, acho que ela se sentia só, apesar de não demontrar - ou não querer... Quem seria 'ela'??? bjinhos!

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  2. O.O

    Sempre incrível!

    (fazia tempo que eu não aparecia aqui, mas tô de volta...)

    Bjobjo!

    (e não demora muito pra postar novos textos! hahahaha ^^.)

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  3. "antes só, do que mal acompanhada"

    As vezes é preciso tentar se convencer de algumas coisas...

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