Havia muito tempo que ela não conseguia se dedicar ao seu marido. Era extremamente estressante manter a cabeça ativa pra cuidar das crianças, evitar que a casa fosse virada de pernas pro ar e fazer com que tudo desse certo no escritório. Ela não conseguia; nunca sobrava tempo pro esmalte, e seu cabelo há tempos não tinha um banho de creme. Mas era o que ela podia fazer; essa era a sua responsabilidade, ela não podia de forma alguma se queixar disso ou querer passar a batata quente pra frente.
Numa quinta-feira à noite, sem terem planejado, ela e seu marido, no meio de um congestionamento, param lado a lado esperando o sinaleiro. Ele, brincando com ela, começa a paquerá-la. Ela ri e vai na dele. Dali mesmo, da janela de seus carros, eles combinam de ir pro cinema – as crianças ficariam com a empregada hoje, só hoje.
Como nos tempos em que ainda era adolescente, eles foram assistir a um filme qualquer. Assistiram o filme todo de mãos dadas. Num daqueles momentos desinteressantes, no escurinho do cinema, eles se beijaram. Ela sentiu, como há muito não sentia, as borboletas no estômago; sentia-se voando. Fazia tempo que não se deixava levar dessa forma e conseguia esquecer das contas e de todos aqueles problemas todos. No meio do beijo, ela para o beijo e ri de uma piada que a menina do filme diz e percebe o quanto, de verdade, ela devia estar feliz.

5 comentários:

  1. "As borboletas no estômago".
    Sensação única. E de uma inexplicável sensibilidade. Acredito que só podemos brincar de escrever do pouco que conhecemos, corremos riscos demais se formos ao acaso. Logo presumo que compartilhe do pequeno fardo das pessoas que já as sentiram voar. Parabéns pelo texto e por ser capaz de se permitir apaixonar e que elas continuem a voar.

    Desejo de milhões de novas experiências com borboletas no estômago.

    Abraços, Poeta.

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  2. beleza também fere. demorei mas li. inesperado e belo. sem mais.

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  3. Só depende de nós...
    Ser FELIZ é um estado de espirito,seja lá o que estriver acontecendo...

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