Lágrimas de Orvalho

Como um girassol, vi o sol nascer e segui-o até o momento em que se pôs. Meus olhos não agüentaram e desistiram antes de mim. Então, cego, procurei a lua. Mas só o que minha mente conseguia ver era o sol. Por algo maior, perdi a sensibilidade para apreciar detalhes; já não mais via a lua nem sabia mais o que eram estrelas — e não sei se um dia soube.
Caído no chão úmido, coberto de orvalho, tentava me convencer a acreditar que fora daquele jardim existiam luzes no fim do túnel. Eu tinha medo das flores e das folhas que caem das árvores; sentia-me perdido; sentia-me sujo. Sentia como se meus dias fossem mais longos e as minhas noites fossem piscares de olhos.
Ensaiei buscar estrelas cadentes; ensaiei buscar o fim do arco-íris. Sempre quis saber como é estar onde eu não estou. Meus sonhos eu arquitetei sobre bases frágeis; sinto não ter estrutura pra sustentar meus próprios anseios.
Desde que desaprendi a voar, fui deixado e esquecido aqui. Meu rosto, colado no chão, se congelava na geada. Minha respiração se enfraquecia. Meu coração eu sentia bater sem forças. Meus devaneios se esvaneciam no ar pesado que me rodeava.
Um dia tive asas. Um dia voei e só depois descobri o quanto isso me era caro. Aprendi o que é ter um pedaço de meu corpo arrancado. Mesmo que se tentasse substituí-las, nada se compararia. O que me puseram no lugar das asas foi um medo doentio e uma medíocre falta de razoabilidade que sempre temi ter que enterrar junto comigo.
Como um verme, rastejei por aquele jardim. Guiado por algo além de mim, uma intuição mais cega do que meus sentidos, esperei por várias luas. Não importa o que eu fazia, tudo, no fim, trazia-me de volta ao sol. Cavei um fundo buraco e joguei-me dentro dele; permaneci lá por um tempo que pensei ter sido um século. Assim que o sol nasceu me vi em pé e ansioso por vê-lo sair detrás das nuvens. Por um longo tempo senti-me frustrado por não tê-lo visto; fiquei horas, doente, sob a chuva; eu sabia que ele estava lá, com todo seu esplendor, brilhando por trás daquele dia cinza.
Como um verme, criei-me um casulo e tranquei-me dentro dele — numa esperança ingênua de que se criem de volta minhas asas. Ainda espero o sol — e não sei se devo me orgulhar disso. Ainda me sinto sujo. E ainda estou cego.

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